Sumário: Durante a I República, a história teve lugar de relevo na argumentação política e doutrinária e na própria legitimação do novo regime. Nesses anos prosseguiu um esforço de nacionalização dos portugueses que se desenvolveu nos mais variados domínios. A memória histórica foi um deles. Quais os grandes temas de debate na historiografia portuguesa? Como se operou a republicanização da memória nacional? Entre outros tópicos (v. g. formação de Portugal, decadência), especial destaque é concedido à Restauração de 1640 para examinar em que medida os historiadores contribuíram para a construção da memória da nação – quando sabemos que muitos outros agentes sociais intervieram nesse processo.
Palavras-chave: historiografia; historiadores; memória nacional; nacionalização.
e a António Baptista (Centro de Ética, Política e Sociedade, ILCH, Universidade do Minho), “A liberdade em Polanyi”, Análise Social, 229, LIII (4.º), 2018, pp. 832-868.
Sumário: A Grande Transformação de Karl Polanyi é uma poderosa crítica da ideologia de mercado e dos seus pressupostos intrínsecos, que se baseia numa teoria política (implícita) da liberdade. Tenta-se aqui reconstruir e explicitar o conceito de Polanyi da “liberdade numa sociedade complexa”, à luz do seu compromisso com uma forma sui generis de socialismo e da sua oposição de longa data ao tipo de argumentos que se podem encontrar n’O Caminho da Servidão de Friedrich Hayek.
Palavras-chave: Polanyi; liberdade; socialismo; democracia; planificação.
O Prémio Especial do Júri 2018, no valor de 1000 euros, destinado a galardoar o melhor artigo da autoria de um jovem investigador, foi atribuído a Ana Caetano (CIES, ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa), “O léxico das crises biográficas”, Análise Social, 226, LIII (1.º), 2018, pp.88-111.
Sumário: O objetivo central deste artigo é discutir e apresentar um modelo de análise sociológica de crises biográficas, ou seja, de fases de vida dos indivíduos marcadas pela quebra dos quadros habituais de ação e pensamento, com impactos substanciais nos seus percursos. Num primeiro momento são mapeados os principais contributos da sociologia para o estudo desta problemática, nomeadamente identificando o que na literatura pode ser enquadrado no conceito de crise. É nesta discussão que assenta, numa segunda parte, a identificação dos principais eixos analíticos que estruturam as dimensões de análise sociológica das crises biográficas.
Palavras-chave: crise biográfica; percurso de vida; rutura; imprevisibilidade.
O artigo de Diogo Andrade Cardoso (CHAM, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa) “A especialização profissional como fator de emigração para os territórios ultramarinos nos séculos XVI e XVII”, Análise Social, 226, LIII (1.º), 2018, pp. 162-185 foi distinguido com uma menção honrosa do júri.
Sumário: Este artigo analisa, para o período compreendido entre 1560 e 1651, a ligação existente entre a especialização profissional, a escolha de um destino ultramarino e de um momento adequado para emigrar. Usando a documentação notarial e paroquial de Vila do Conde, o artigo procura identificar as profissões dos emigrantes em articulação com as conjunturas económicas e sociais dos locais de destino da emigração, provando que estas eram determinantes para os que buscavam uma vida melhor, pois permitiam uma melhor adaptação às realidades económicas e sociais locais.
Palavras-chave: emigração; profissões; territórios ultramarinos; séculos XVI e XVII.
Os prémios foram atribuídos pelo seguinte júri: José Manuel Sobral (ICS, Universidade de Lisboa, presidente), Pedro Tavares de Almeida (Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa), Nélia Dias (CRIA, ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa), Rita Almeida de Carvalho (ICS, Universidade de Lisboa), Ana Delicado (ICS, Universidade de Lisboa), Ana Nunes de Almeida (ICS, Universidade de Lisboa), Nuno Gonçalo Monteiro (ICS, Universidade de Lisboa).
Sumário: O mapeamento conceptual e académico da sociologia e da ciência económica, incluindo a identificação de um lugar para a sociologia económica, constituiu um problema relevante para vários autores do século XIX, os quais produziram teorizações que foram submetidas a uma severa crítica por Parsons, nos anos 30 do século xx. Parsons reformulou mais tarde várias das suas ideias quanto a estes assuntos, nunca tendo chegado a uma solução satisfatória. Este problema é mais ampliado do que resolvido, considerando autores dos finais do século XX, como os do “individualismo metodológico” e da “nova sociologia económica”. As flutuações conceptuais e a incoerência teórica são ainda mais aprofundadas se tomarmos em consideração também o problema das fronteiras daquelas disciplinas com a história.
Palavras-chave: sociologia económica; história; fronteiras académicas; incoerência teórica.
e a Renato Lessa (Universidade Federal Fluminense), “Modos de inventar uma República: demiurgia e invenção institucional na tradição republicana brasileira”, Análise Social, 204, XLVII (3.º), 2012, 508-531.
Sumário: O artigo sugere uma interpretação da República brasileira como processo de invenção dependente de duas ordens de ficções. A primeira delas, formulada entre outros ensaístas brasileiros, por Francisco José de Oliveira Vianna, sustenta a vigência, no processo de constituição da sociedade e do Estado no Brasil desde o período colonial, de um padrão de sociabilidade fragmentado e carente de laços sociais e cívicos permanentes. A segunda ordem de ficções é corolário da primeira: a ausência de nexos sociais acabou compensada pela presença e pela força do direito público e da elaboração constitucional. O artigo analisa dois momentos cruciais de (re)invenção da República brasileira, ambos marcados pelo predomínio do direito público e da invenção constitucional (1932 e 1988). Ao fim, a experiência política brasileira é apresentada como tentativa continuada de criação de uma comunidade cívica e política “contra os factos”.
Palavras-chave: invenção; República; direito público; constituições.
O artigo de Mark Turin (Universidade de Yale e Universidade de Cambridge) “Voices of vanishing worlds: Endangered languages, orality and cognition”, Análise Social, 205, XLVII (4.º), 2012, 846-869 foi distinguido com uma menção honrosa do júri.
Abstract: Up to half of the world’s 6,500 languages spoken today may be extinct by the end of this century. Most of these endangered languages are oral speech forms, with little if any traditional written literature. If undocumented, these tongues—each representing a unique insight into human cognition and its most powerful defining feature, language—risk disappearing without trace. In this article, I discuss the unique spatial and temporal worlds occupied by communities whose languages are still principally oral. Drawing on examples from the Himalayas, I show how technology is effecting global linguistic diversity and the voices of these vanishing worlds.
Keywords: endangered languages; orality; human cognition; Himalayas.
Os prémios foram atribuídos pelo seguinte júri: José Luís Garcia (ICS, Universidade de Lisboa, presidente), Ana Cristina Nogueira da Silva (Faculdade de Direito, Universidade Nova de Lisboa) e Carlos Jalali (Universidade de Aveiro).
Sumário: Desde o início deste milénio que a investigação académica tem identificado o sentimento anti-muçulmano como uma característica-chave da extrema-direita europeia. Este artigo discute a história e a validade do termo “islamofobia”, assim como a emergência e consolidação do tema da “Eurábia” na ideologia da extrema-direita. Analisa ainda a forma como as concepções de uma tomada de poder pelos muçulmanos na Europa têm contribuído para reconfigurar a ideologia da extrema-direita e para formar novas convergências entre diferentes margens do espaço político.
Palavras-chave: Islão; extrema-direita; identidade; imigração.
O prémio foi atribuído pelo seguinte júri: José Luís Garcia (ICS, Universidade de Lisboa, presidente), Ana Cristina Nogueira da Silva (Faculdade de Direito, Universidade Nova de Lisboa) e Carlos Jalali (Universidade de Aveiro).
Sumário: Neste artigo procede-se a uma reflexão crítica sobre a teoria do actor-rede de Michel Callon e Bruno Latour. Salienta-se a necessidade de incorporar no estudo do social as emoções e a imponderabilidade. Tendo como referência a análise de situações de catástrofe ou de acontecimentos extremos, propõe-se uma reflexão sobre o trabalho político que coloca fora das redes sociais, como irrecuperáveis e descartáveis, todos os que não criam ou não possuem valor na perspectiva hegemónica e que, por conseguinte, não são construídos como portadores de direitos sociais e políticos, tornando-se invisíveis e ausentes das análises convencionais propostas pela teoria do actor-rede.
O Prémio Especial do Júri 2011, no valor de 500 euros, destinado a galardoar o melhor artigo/estudo da autoria de um jovem investigador publicado na revista em 2010 foi atribuído ex-aequo a Miguel Morgado (Instituto de Estudos Políticos, Universidade Católica Portuguesa), “Filosofia política e democracia”, Análise Social, XLV (3), 2010, pp. 467-489.
Sumário: A filosofia política enquanto filosofia política e da política não está desligada das condições políticas da sua actividade. A defesa política da filosofia, que é um elemento estruturante da filosofia política, resulta incontornavelmente de um confronto entre as várias formas de existência disponíveis aos homens e por eles vividas. Porém, o regime político e a sua vitalidade histórica afectam o modo de relacionamento do filósofo com a cidade quando procede à defesa política da filosofia. Neste texto tentarei examinar a relação concreta que se estabelece entre a democracia contemporânea e a filosofia política e sugerir que esta relação, apesar de historicamente benévola para a filosofia política, contém também alguns riscos.
e a António Baptista (ICS, Universidade de Lisboa), “Democracia e representação democrática”, Análise Social, XLV (3), 2010, pp. 491-514.
Sumário: Neste artigo sustenta-se que a democraticidade é o fundamento da legitimidade da representação. Assim, debater normativamente o problema da representação passa pela elucidação e defesa prévias de um modelo de democracia. Defende-se a democracia como o ideal (processual) da igualdade política (isocracia). Analisam-se e rejeitam-se as objecções às concepções processuais de democracia e expõem-se as debilidades das concepções substantivas rivais. Finalmente, à luz do ideal da isocracia, demonstra-se a superioridade democrática da democracia directa e sustenta-se que os sistemas eleitorais proporcionais são os que melhor se coadunam com a representação fidedigna das preferências dos cidadãos, isto é, a representação democrática.
O prémio foi atribuído pelo seguinte júri: José Manuel Rolo (ICS, Universidade de Lisboa, presidente), Pedro Tavares de Almeida (FCSH, Universidade Nova de Lisboa) e Carlos Fortuna (Faculdade de Economia, Universidade de Coimbra).
Sumário: As duas mais importantes bases internacionais com dados para o PIB per capita e produtividade da economia portuguesa dos anos 50 em diante (GGDC e Ameco) oferecem dois retratos opostos da sua evolução, em especial durante o abrandamento entre 1973 e os anos 80. O principal problema é a qualidade dos dados de base sobre população e emprego. Oferecem-se aqui novas estimativas e apresentam-se novos cálculos do PIB per capita e da produtividade do trabalho entre 1950 e 2007. Confirma-se a ideia transmitida em GGDC (abrandamento semelhante do PIB per capita e produtividade), mas as séries são diferentes, devendo as séries aqui apresentadas ficar como as novas referências para a economia portuguesa.
Palavras-chave: Portugal; PIB per capita; produtividade do trabalho; novas séries.
O Prémio Especial do Júri 2010, no valor de 750 euros, destinado a galardoar o melhor artigo/estudo da autoria de um jovem investigador publicado na revista em 2009 foi atribuído a Victor Pereira (Université de Pau et des Pays de l’Ardour), “Emigração e desenvolvimento da previdência social em Portugal”, Análise Social, 192, XLIV (3.º), 2009, pp. 471-510.
Sumário: Este artigo analisa a política social do final dos anos 60 e inícios dos anos 70. Demonstra que o alargamento da previdência social corresponde a uma tentativa de ajustamento do governo face à emigração que se iniciou no fim da década de 50. Este alargamento resultou também da acção no seio do Estado de uma corrente de altos funcionários inspirados pela doutrina social da Igreja renovada pelo Vaticano II, da inserção de alguns agentes administrativos nas comunidades epistémicas internacionais ligadas às políticas sociais e de uma tentativa de legitimação do poder de Marcelo Caetano.
Palavras-chave: emigração; Estado-providência; Estado Novo; movimentos sociais.
O prémio foi atribuído pelo seguinte júri: Jaime Reis (ICS, Universidade de Lisboa, presidente); Jorge Flores (Universidade de Brown, EUA); Peter Fry (Universidade Federal do Rio de Janeiro); Robert Fishman (Universidade de Notre Dame, EUA).
Sumário: Este artigo aborda os efeitos das redes sociais dos eleitores na sua propensão para o voto. Vários modelos formais têm proposto que a decisão de votar deverá ser vista como interdependente em relação às decisões dos membros da rede social a que o indivíduo pertence. Utilizando dados recolhidos em dois inquéritos através de questionários realizados após as eleições legislativas de 2005 e as presidenciais de 2006, este artigo sugere que, à semelhança do que sucede com a opção de voto, as redes sociais exercem uma enorme influência sobre a decisão de votar. Contudo, ao contrário do que sucede com a opção de voto, essa influência é, neste caso, predominantemente normativa e não informacional.
O Prémio Especial do Júri 2009, no valor de 750 euros, destinado a galardoar o melhor artigo/estudo da autoria de um jovem investigador publicado na revista em 2008, foi atribuído a Renato Miguel do Carmo (ISCTE, Instituto Universitário de Lisboa), “Da escala ao território: para uma reflexão crítica do policentrismo”, Análise Social, 189, XLIII (4.º), 2008, pp. 775-793.
Sumário: Este artigo pretende realizar uma análise reflexiva sobre o conceito de policentrismo, cujos pressupostos orientam grande parte das actuais políticas de ordenamento do território, no sentido de compreender se este representa a resposta mais viável para a resolução dos desequilíbrios regionais do território nacional, nomeadamente os que afectam as zonas que se encontram na encruzilhada da urbanização e da marginalização. Para o efeito, iremos utilizar como contexto de análise os estudos que temos vindo a realizar sobre a região do Alentejo.
O prémio foi atribuído pelo seguinte júri: Jaime Reis (ICS, Universidade de Lisboa, presidente); Jorge Flores (Universidade de Brown, EUA); Peter Fry (Universidade Federal do Rio de Janeiro); Philippe Schmitter (Instituto Universitário Europeu, Florença).
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