A Análise Social foi publicada, pela primeira vez, em finais de Janeiro de 1963, enquanto revista do Gabinete de Investigações Sociais – GIS (sucessor do Gabinete de Estudos Corporativos) – fundado em 1962 por Adérito Sedas Nunes. A revista contribuiu para a institucionalização das Ciências Sociais em Portugal. Com uma longa história, a Análise Social foi mudando ao longo do tempo, caminhando paulatinamente para a abertura a diferentes disciplinas e geografias. Entre 1988 e 2011, assistiu-se à inclusão de novas áreas disciplinares, como a Antropologia e a Ciência Política (Pina Cabral, 2011) e em 2020 foi incluída a Geografia.
No antigo GIS dava-se prioridade ao estudo das condições sociais e económicas da população portuguesa de então e à forma como o regime salazarista lidava com essas desigualdades. A revista abria, assim, “um espaço novo no campo intelectual” – o do “estudo e da reflexão sobre as realidades sociais” (Nunes, 1988, p. 21).
O primeiro número da Análise Social incluiu um artigo sobre a situação habitacional de Portugal e um artigo sobre o “estudo das ideologias” como “factos sociais”. Numa primeira fase a revista não abordou o problema do regime, nem o problema colonial, porque por aí passou talvez uma das suas estratégias de sobrevivência. Ainda nesta fase inicial foi incluindo temas como o sindicalismo e os conflitos no trabalho (Nunes, 1988, pp. 20, 25, 26).
Desde o princípio que na sua capa foi impresso o selo da Universidade Técnica de Lisboa (Nunes, 1988, p. 26), o que terá contribuído para a sua distinção e aceitação no contexto da censura. Apesar desta, “a leitura de muitos artigos dos anos 60 e princípio dos 70 não revela uma revista passiva e obediente”; nela “a liberdade de investigação e de expressão, assim como o pluralismo, nasceram antes de existirem na sociedade” (Barreto, 1999, p. 4).
O primeiro número especial, em 1964, foi duplo (números 7 e 8) e tratava os “Aspectos sociais do desenvolvimento económico em Portugal”. Teve uma tiragem de 4000 exemplares e esgotou rapidamente. Passadas poucas semanas apareceram no mercado exemplares em segunda mão por valores que ascendiam 10 a 20 vezes o preço inicial (Nunes, 1988, p. 27).
Em 1968, foram publicados um volume duplo (números 20 e 21) e um volume triplo (números 22, 23 e 24) sobre “A Universidade na vida portuguesa”, tratando-se do “mais exaustivo e sólido estudo” realizado até então sobre as universidades e sua população docente e discente (Nunes, 1988, p. 29).
Nos primeiros tempos, a revista foi atrativa para o público alargado, mas quando evoluiu de uma revista de “estudos sociais” para uma revista de “ciências sociais”, essa atração esmoreceu. Tornou-se, contudo, “muito mais interessante para o investigador, o especialista, o estudioso e o estudante interessado nas ciências sociais” (Nunes, 1988, p. 33).
Os primeiros professores do ISCTE (hoje IUL) estavam ligados ao GIS; do GIS veio a nascer o Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa, de modo que o ISCTE, da parte das Ciências Sociais e o ICS “são dois ramos da mesma árvore, de uma árvore cuja semente foi lançada ao chão quando, em fins de Janeiro de 1963, saiu o primeiro número da Análise Social (Nunes, 1988, p. 46). Além de pioneira, a revista foi demonstrando ao longo do tempo a importância das Ciências Sociais para a compreensão das realidades sociais e é hoje uma das imagens de marca do ics.
Embora inicialmente focada na análise da sociedade portuguesa, a revista foi dando conta de outros contextos, europeus e não só, nomeadamente aqueles com os quais tem existido mais interlocução intelectual, e os países de expressão portuguesa. As análises históricas, sociais, económicas e culturais nela incluídas continuam a dar conta dos desafios de fazer investigação em Portugal, na Europa, e num mundo contemporâneo em constante transformação.
A revista continua a valorizar a importância de estabelecer diálogos, divulgar contributos analíticos plurais e diversificados e tradições académicas distintas. Permanece, assim, como um espaço interdisciplinar de reflexão e debate. O seu sucesso “não se reflecte apenas no número de leitores ou no número de investigadores que a procuram (…), mas no seu impacto intelectual e na contribuição para o avanço do conhecimento científico” (Vala, 2011, p. 617).
58 anos depois, a Análise Social conta com 238 números. Todas as propostas são submetidas a um processo de avaliação por pares, de acordo com o sistema adotado oficialmente a partir de 1999 (Barreto, 1999, p. 7).
Com vista a promover e captar trabalhos de excelência, a revista atribui, desde 2009, o Prémio Análise Social.
O atual Conselho de Redação compromete-se a acompanhar os novos tempos, introduzir mudanças quando necessário e permanecer fiel ao legado deixado.
Fevereiro de 2021
Referências e leituras adicionais para a história da Análise Social
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